Sífilis cresce, atinge 200 mil brasileiros e desafia especialistas

9 de julho de 2021

 

Por 29/01/2019

Em 2017, foram notificados 119.800 casos de sífilis adquirida, 49.013 casos em gestantes e 24.666 ocorrências de sífilis congênita

Direto ao ponto: a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) perigosa e persistente. É causada pela bactéria Treponema pallidum – que, na maior parte dos casos, é transmitida por meio do contato sexual sem uso de preservativo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a infecção atinge mais de 12 milhões de pessoas no mundo, e o aumento dessa infecção tem preocupado muito os especialistas. Tanto que, em 2016, a sífilis foi declarada pelo Ministério da Saúde como um grave problema de saúde pública no Brasil.

Os primeiros sintomas da sífilis são feridas indolores no pênis, no ânus, na vulva ou na boca e, se não forem tratadas, desaparecem espontaneamente e retornam depois de semanas, meses ou anos, nas suas formas secundária ou terciária, mais graves. Quando a infecção surge durante a gravidez, ela pode infectar o feto, que contrai a sífilis congênita, situação que pode causar má-formação, aborto ou a morte do bebê. A enfermidade tem cura e o seu tratamento é feito com injeções de penicilina, orientadas pelo médico de acordo com a fase da doença. Dra. Adele Benzaken, médica sanitarista especialista em DST afirma.

Nos estágios primário e secundário, a probabilidade de transmissão é maior. A sífilis pode ser transmitida por relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada ou, principalmente, durante a gestação para a criança (transmissão vertical), quando as pessoas acometidas não são detectadas e tratadas

De acordo com Adele Benzaken, o uso correto e regular da camisinha feminina ou masculina é uma medida importante de prevenção da sífilis. “O acompanhamento das gestantes e parcerias sexuais durante o pré-natal de qualidade também contribui para o controle da sífilis congênita”, afirma a especialista.

Origem da doença

A origem da sífilis ainda é desconhecida. Uma tese bem-aceita é a de que a infecção seja uma doença das Américas que chegou à Europa quase junto com o descobrimento do continente. Os pioneiros das grandes navegações teriam contraído a bactéria e a espalhado pela Europa quando voltavam para casa. O microrganismo já existia no Brasil antes da chegada de Pedro Álvares Cabral nestas terras. O professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) José Filippini conta que estudiosos encontraram ossadas com mais de 4 mil anos de índios que tiveram a doença.

Segundo outra teoria, esse mal sempre existiu na Europa, mas era diagnosticado equivocadamente. “Ela pode ser confundida com a lepra. Os que concordam com a teoria da sífilis pré-colombiana afirmam que ela talvez seja tão antiga quanto a humanidade. Pesquisas afirmam que a bactéria surgiu na África e se espalhou pelo mundo com nossos ancestrais”, aponta.

O controle da sífilis depende de uma série de fatores, como aumentar a atenção à gestante e suas parcerias sexuais durante o pré-natal, ampliar o acesso ao diagnóstico da população e estabelecer parcerias de base comunitária, além de vencer obstáculos quanto à administração de benzilpenicilina benzatina na atenção básica.

A oferta de teste rápido de sífilis é crescente, mas sua utilização e cobertura na atenção básica ainda não são satisfatórias, segundo dados obtidos a partir do segundo ciclo do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica.

Jovens

A sífilis vem se instalando entre os segmentos mais jovens da população brasileira, sobretudo entre homens, embora a maioria dos casos ainda ocorra entre mulheres, o que impõe a necessidade de desenvolver ações de prevenção nas escolas e nas redes de interação juvenil. O movimento contribui para a promoção da saúde integral do homem, considerando que a maioria deles só procura serviços de saúde quando está doente.

Iniciativa

Nesse sentido, o Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), do HIV/Aids e das Hepatites Virais, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde (DIAHV/MS/SVS), elaborou a Agenda de Ações Estratégicas para Redução da Sífilis no Brasil. Esse documento resultou na iniciativa de uma emenda parlamentar de R$ 200 milhões para implementar um projeto de resposta rápida à sífilis em 100 municípios prioritários, que respondem por aproximadamente 65% dos casos da doença no país.

O projeto foi concebido para: induzir ações voltadas ao controle da sífilis nas redes de atenção à saúde, com atuação de apoiadores locais; produzir conhecimentos por meio de estudos operacionais; e potencializar a capacidade técnica de vigilância e assistência nos municípios.

Destaca-se a articulação interfederativa com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), para constituir uma base de consenso para o alcance das metas. Essa estrutura de governança tem a participação do controle social mediante representações nacionais, estaduais e municipais dos conselhos de saúde.

A sífilis pode se apresentar por meio de variados sintomas, geralmente de acordo com a fase em que a doença se encontra:

1 – Sífilis primária

É o primeiro estágio da doença, que surge entre 10 e 90 dias após o contágio. O principal sintoma nessa fase é surgimento do cancro duro, caracterizado por um pequeno caroço rosado que evolui para uma úlcera avermelhada, com bordas endurecidas e fundo liso, coberto por uma secreção transparente. Essa úlcera é indolor e costuma surgir no local da infecção, geralmente nos órgãos genitais, mas pode aparecer na região anal, boca, língua, mamas ou dedos.

2 – Sífilis secundária

Seus sintomas surgem cerca de seis a 24 semanas depois do desaparecimento das lesões causadas pela sífilis primária. Nesta fase, são comuns os sintomas que afetam o corpo todo, com lesões de pele generalizada, principalmente na região das palmas das mãos e dos pés, aparecimento de condilomas (verrugas) nas mucosas, principalmente na área genital, além de dor de cabeça, mal-estar, febre baixa e fraqueza muscular. Essa fase costuma persistir durante o primeiro e segundo ano da doença, ocorrendo novos surtos que regridem espontaneamente, intercalados por intervalos sem sintomas que costumam ser cada vez mais duradouros.

3 – Sífilis latente

Período em que não se observa nenhum sinal ou sintoma. Diagnóstico é feito exclusivamente pela realização de teste de sífilis.

4 – Sífilis terciária

Se o tratamento não for feito, algumas pessoas passam para o terceiro estágio da doença, caracterizado por lesões maiores endurecidas e infiltrativas na pele, boca e nariz, além de sérios problemas cardíacos, no sistema nervoso, nos ossos, nos músculos e no fígado.

Alguns dos sintomas mais graves são: doenças psiquiátricas, como demência, paralisia geral progressiva ou alterações de personalidade; alterações neurológicas, como reflexos nervosos exagerados ou pupilas não responsivas à luz; insuficiência do coração ou aneurisma e regurgitação da aorta, principal vaso sanguíneo do corpo. Esses sintomas podem surgir de 10 a 30 anos após a infecção inicial e quando não é feito o tratamento da doença.

 

Fonte: Revista Metrópoles

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